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quinta-feira, fevereiro 16, 2006

Desemprego

by Martim Avillez Figueiredo
É assim o mercado: ao mesmo tempo que surpreende o país com uma OPA de uma pequena empresa de telecomunicações sobre o gigante do sector, também o aflige com a notícia de um valor recorde de desemprego.
Em pessoas, e não em percentagem, há quase meio milhão de portugueses sem emprego. A aflição é real, mas a notícia era esperada. A falta de emprego é a consequência inevitável de uma economia em mudança. Dito de outra forma: quando uma sociedade abandona a agricultura (e investe por exemplo nos serviços), milhares de agricultores ficam imediatamente sem emprego. Portugal, é sabido, vive um destes momentos: tenta evoluir de uma economia baseada no trabalho não qualificado para um modelo mais preparado para os desafios da globalização. Mas esta é apenas a constatação óbvia.
A mais difícil – a verdadeiramente violenta – é a que lembra: todos quantos perdem o emprego nesta desagradável onda dificilmente o conquistam na vaga seguinte. Ficam lá, no desemprego, até se prepararem para navegar nessas novas águas.
Quando o ministro do Trabalho, Vieira da Silva, vinca a sua preocupação perante os jornalistas, é nestes homens e mulheres que ele está a pensar – e não em todos os outros que encontrarão um emprego quando a economia mudar. Na revolução que Thatcher fez em Inglaterra, deixando milhares de mineiros sem emprego (porque simplesmente lhes fechou as minas), o ministério do trabalho chegou a distribuir panfletos sobre a dignidade de virar hambúrgueres em cadeias de ‘fast food’. Ela sabia que muitos desses homens nunca voltariam a encontrar um emprego se não estivessem dispostos a alterar a sua forma de pensar. Não é certo que os métodos de Thatcher fossem os mais justos, mas é garantido que esta mudança será violenta (numa perspectiva económica pura, pode mesmo dizer-se que se o desemprego não aumentasse agora, então a economia não estava a mudar).
O que permite uma ideia final: o emprego futuro será gerado no mercado. Para onde esse mercado vai, não se sabe – importante é que vá. Por isso se fala tanto em educação – ela deve ser sólida e flexível, para se adaptar a vários caminhos e pontos de chegada. É essa a responsabiliadde do Governo. Desenganem-se, por isso, os sindicatos: os novos empregos não se desenham mais à mesa de ministros. Alguém recorda o que aconteceu aos milhares de portugueses que frequentaram cursos de MS-DOS?O futuro está no mercado e num país que aceite as suas vantagens. Para que não venhamos todos a ter de virar hambúrgueres no próximo ciclo.

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